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quarta-feira, 9 de julho de 2014

CONTRA O PRÓPRIO GOL

Não ignoro que muitos têm tido e têm a opinião de que as coisas do mundo sejam governadas pela fortuna e por Deus, de forma que os homens, com sua prudência, não podem modificar nem evitar de forma alguma; por isso poder-se-ia
pensar não convir insistir muito nas coisas, mas deixar-se governar pela sorte. Esta opinião tornou-se mais aceita nos nossos tempos pela grande modificação das coisas que foi vista e que se observa todos os dias, independente de qualquer
conjetura humana. Pensando nisso algumas vezes, em parte inclinei-me em favor dessa opinião. Contudo, para que o nosso livre arbítrio não seja extinto, julgo poder ser verdade que a sorte seja o árbitro da metade das nossas ações, mas
que ainda nos deixe governar a outra metade, ou quase. Comparo-a a um desses rios torrenciais que, quando se encolerizam, alagam as planícies, destróem as árvores e os edifícios, carregam terra de um lugar para outro; todos fogem diante dele, tudo cede ao seu ímpeto, sem poder opor-se em qualquer parte. E, se bem assim ocorra, isso não impedia que os homens, quando a época era de calma, tomassem providências com anteparos e diques, de modo que, crescendo depois, ou as águas corressem por um canal, ou o seu ímpeto não fosse tão desenfreado nem tão danoso.

Da mesma forma acontece com a sorte, a qual demonstra o seu poderio onde não existe virtude preparada para resistir e, aí, volta seu ímpeto em direção ao ponto onde sabe não foram construídos diques e anteparos para contê-la.
(NICOLAU MAQUIAVEL).



A Seleção Brasileira fez uma grande estréia contra a Croácia no Itaquerão, vencendo por 3 a 1 com belos gols e de grandes jogadores, mas um fato marcante do ponta pé inicial da trajetória da seleção foi ter tomado um gol logo no início do jogo, um gol contra é como começar com o pé esquerdo e as bruxas soltas. A eliminação pela Alemanha agora confirma esse prognóstico. Jamais alguém imaginaria que fosse por um placar de 7 a 1, uma mancha mais inesquecível que a perda do primeiro título e a primeira Copa disputada em casa, para o Uruguai em 1950. Porque uma derrota desse tipo deixa sempre a sensação de impotência imprevisível, ou seja, estar tudo certo e de repente tudo pode desandar. Esse tipo de assombração vai acompanhar o Brasil até a busca do hexacampeonato, em 2018. O sonho de ser campeão em casa permanece para além de seus atuais 5 campeonatos.

Eu estava dormindo - que é meu horário atual, 19h a 24h, deitando uma hora antes - e durante isso ouvindo essa barulheira característica dos arredores, embora possuía as análises mais lógicas de que daria Alemanha, jamais imaginava que seria esse tipo de placar. Mas ouvia uma grande euforia e pensei enquanto isso, acho que o Brasil venceu... quando acordar eu penso... e acordei, acessei a internet e fiquei estarrecido. Eu sei que todo mundo diz e vai dizer que o futebol é uma caixinha de surpresas, mas daí dizer que não possui lógica é inconcebível.

Essa atual Seleção possui jogadores aquém dos elencos que não venceram nenhuma Copa, da década de 80, mas jogadores muito bons, certamente a base da Seleção pelos próximos anos até a Copa da Rússia em 2018, com a incorporação de mais alguns, por isso tenho certeza que vai se recuperar emocionalmente nas competições sequentes e vai brigar muito pela conquista do hexacampeonato em 2018. Infelizmente, o imprevisível e a sensação de impotência, que citei no início desse texto, não se apagarão nem mesmo com hepta, isoladamente. Espetáculo dos atuantes é assim. Nos estádios e em todos os ambientes, os torcedores deram desde o início uma demonstração de grande festividade e civilidade, que continuem assim, então que não incorporem o Diabo do ódio, senão a mesma fragilidade que os envolvidos diretamente no jogo, que nasça da imensa torcida brasileira, a mais amante do futebol, a coragem para seguir a vida, a razão para reverter o pior tipo de adversidade, que os próximos títulos do futebol carimbe para sempre, como uma "virtù", provinda dessa "fortuna", conceitos de Nicolau Maquiavel, uma forma que seja bem brasileira de encarar os fatos e superá-los.

Grande mundial, esse de 2014, inesquecível. Que os russos, por hora, nos invejem.